Dentre as etapas no processo de tingimento natural, talvez uma das mais importantes seja a escolha e a preparação das fibras têxteis/ tecidos utilizados. A partir de definida a fibra, se ela é animal ou vegetal (aqui não mencionamos sintéticas pois a princípio não são ideais para o tingimento natural), podemos definir qual será o processo de limpeza e preparação dessa fibra para chegar no objetivo desejado no tingimento.
O foco desse artigo é falar um pouco mais sobre a etapa de preparo das fibras que é feita após a lavagem e, mais especificamente, sobre o uso da soja nesse processo, que acaba sendo uma escolha por vezes não muito usual e que não é consenso dentre todas as tintureiras e tintureiros, mas que eu pessoalmente gosto muito de utilizar tanto pelos bons resultados quanto por questão de segurança no trabalho artesanal.
O processo que se segue da limpeza das fibras geralmente é chamado de mordentagem. A mordentagem consiste em utilizar um agente químico, geralmente um sal como alúmen de potássio ou outros metais, para viabilizar o processo de aderência das moléculas do corante às fibras escolhidas para tingimento. O processo geralmente é feito a partir da diluição desse sal em água e posterior submersão das fibras a determinada temperatura e por determinado tempo.
O uso dos sais metálicos, entretanto, não é a única opção que temos como preparação das fibras, apesar de ser um dos métodos mais utilizados e com boa eficácia.
O leite de soja aparece aqui então como uma opção interessante para quem utiliza fibras naturais vegetais e quer evitar utilizar os sais metálicos – especialmente por questões de saúde, por se tratar de sais de metais pesados para os quais faltam estudos atestando a segurança para uso em ambiente caseiro, mais comum no trabalho artesanal.
O papel do leite de soja é também auxiliar na aderência do corante à fibra, mas dessa vez não através de uma ligação molecular, e sim física. O leite de soja cria uma espécie de película proteica nas fibras, e essa proteína é um componente importante no tingimento natural. Por esse motivo, inclusive, as fibras de origem animal costumam ter resultados melhores no quesito fixação, por conterem proteína animal em si.
O preparo das fibras com o leite de soja é, então, considerado por alguns tintureiros como também uma espécie de mordentagem, mas por outros como “pré-mordentagem”, pois tecnicamente o seu uso não implica numa mordentagem por definição, e também é possível fazê-lo e seguir utilizando sais metálicos em conjunto com ele. De acordo com o processo e produtos escolhidos, o resultado do tingimento pode apresentar variações na cor e na fixação.
Aqui no atelier, optamos por seguir as seguintes etapas: separação e limpeza das fibras, preparo com leite de soja, cura da fibra e tingimento.
No próximo post detalharei mais o processo de preparação do leite de soja e das fibras.